Coleção Eduardo de Oliveira e Oliveira

EOO_jovemEduardo de Oliveira e Oliveira foi músico, ator, dramaturgo, sociólogo e chegou a atuar como docente na Universidade Federal de São Carlos. Ativista pelos direitos dos negros no Brasil, foi militante incansável e disseminador da cultura afro-brasileira, suas atividades artísticas e intelectuais estão inseridas no processo de formação e constituição do movimento negro contemporâneo. 

Hoje, sua coleção compõe registro e memória das produções e coleções de seu percurso histórico do movimento no Brasil. Os milhares de materiais que compõem a Coleção Eduardo de Oliveira e Oliveira possuem naturezas diversas, contendo:

º Fotografias e Gravuras

º Discos de vinil 

º Impressos: Correspondências; Documentos Pessoais; Documentos Pessoais de Outros; Produção Intelectual de Eduardo de Oliveira e Oliveira; Livros; Periódicos; Recortes; Folhetos; Separatas; Teses; Folhas Volantes; Catálogos; Cartazes e Programas; e Miscelânea.

que foram catalogados, dando origem à coleção Eduardo de Oliveira e Oliveira, que está disponível para consultas na Unidade Especial de Informação e Memória (UEIM) da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar). A seguir um breve relato biográfico desta célebre figura brasileira:

Eduardo de Oliveira e Oliveira nasceu em 5 de julho de 1923, no bairro de Madureira no Rio de Janeiro. Em 1943, ingressa na Escola Nacional de Música da Universidade do Brasil - sediada também no Rio de Janeiro - para se dedicar aos estudos de piano e canto. Em 1957, vai morar em São Paulo. Nessa época, participa de peças teatrais organizadas por um grupo franco-brasileiro - nelas encena em língua francesa. No EOO_Coralano de 1960, ingressa na graduação em Ciências Sociais na Universidade de São Paulo, que conclui em 1964, tendo como paraninfo de turma o sociólogo Florestan Fernandes - a colação de grau acontece oito dias antes do golpe militar. Em 1966, Eduardo ingressa na pós-graduação em Ciências Sociais na Universidade de São Paulo, cursando disciplinas dedicadas aos estudos de sociologia do conhecimento e sobre raças e classes sociais no Brasil. Dentre suas contribuições acadêmicas encontram-se também as traduções do francês a obra “7 estudos sobre o homem e a técnica” de Georges Friedmann e a obra “As Américas Negras”, de Roger Bastide. 

A partir de 1969, intensifica sua atuação política sobre as questões raciais e o movimento negro. Nessa conjunção, Eduardo foi um dos idealizadores do projeto "Coral Crioulo", que reuniu elementos culturais afro-EOO_Romariaamericanos e da literatura musical brasileira para formar um grupo musical de jovens composto por 32 vozes. 

Eduardo publicou diversos artigos em jornais e revistas brasileiras dentre os quais estão, “Da negritude”, “Nós, 84 anos depois”, “O Mulato, um obstáculo epistemológico”, além de suplementos literários como “Blues para Mister Charles” e “Black Theatre”. Também organizou diversas exposições, entre as quais se encontram a comemoração ao “80º aniversário da Abolição da Escravidão Negra no Brasil”, a organização da “I Semana Afro-Brasileira” e a “Imprensa Negra de São Paulo entre 1920 e 1950”, todas realizadas na Biblioteca Municipal de São Paulo, incluindo a exposição “África-Arte Negra”, no Museu de Arqueologia da Universidade de São Paulo. 

EOO_E agora...falamos nósEm 1971, Eduardo desenvolve a peça de teatro “E agora... falamos nós”, em co-autoria com Thereza Santos, com apresentações realizadas no auditório do Museu de Arte de São Paulo Assis Chateaubriand, entre novembro e dezembro daquele ano. Ambos tornaram-se integrantes da Sociedade Brasileira de Autores Teatrais. Além disso, em parceria com Thereza, ele também foi co-fundador do Centro de Cultura e Arte Negra (CECAN). Na mesma época, Eduardo entra para o Grupo de Trabalho de Profissionais Liberais e Universitários Negros (GTPLUN), que investigava, entre outros temas, a formação intelectual para a integração da população negra na sociedade paulista.

Em 1972, Eduardo dedicou-se à pesquisa e aos trabalhos de campo, tendo como tema de projeto as questões sobre relações raciais e a ideologia racial. Neste período, ele frequentou cursos sobre estudos afro-americanos nas cidades de Nova York e Filadélfia, passando por várias universidades estadunidenses que desenvolvem estudos sobre as culturas negras. Eduardo também faz um estágio sobre relações EOO_QznNegroraciais na Sorbonne, em Paris, além de realizar pesquisas em institutos e museus de Senegal e Londres, analisando documentações relacionadas aos negros e à escravidão no Brasil. 

Dando continuidade às suas pesquisas sobre questões históricas e consciência de raça, Eduardo ingressa no doutorado em 1975. Nesta época, realiza diversas conferências, atuando como organizador e coordenador  de  vários eventos na capital paulista com o intuito de promover o movimento negro nos meios acadêmicos, entre os quais se encontram a “Quinzena do Negro da USP” e a criação do “Centro de Estudo da Universidade Federal de São Carlos”, com destaque para o tema sobre “Etnia e compromisso intelectual” e questões relacionadas à abolição no Brasil. Na Quinzena, Eduardo organiza um evento sobre “O Negro no Cinema Brasileiro” apresentado no Museu da Imagem e do Som (MIS). 

Em 1977, o Departamento de Jornalismo da TV Cultura de São Paulo realizou o documentário “O negro da senzala ao soul”, organizado por Beatriz Nascimento e Eduardo Oliveira e Oliveira, mostrando os depoimentos de pessoas negras e as influências da soul music norte-americana dos anos 1970. Ao lado do samba, essas influências estrangeiras forneceram importantes elementos sobre as questões de orgulho e pertencimento, bem como sobre as histórias, a cultura e os direitos raciais. Entre outros temas, a Quinzena do Negro propõe uma reflexão sobre o sentido da abolição e da incompletude de sua EOO_Cemitériointegração, retomando questões sobre a auto-organização e liberdade dos quilombos, a luta negra na abolição, as influências da revolução haitiana e do movimento dos direitos civis dos negros norte-americanos, por exemplo. 

Em 1978, Eduardo realiza o exame de qualificação de doutoramento, mas não defende a tese que fora marcada para o final de 1979. Nesta época, além de participar de vários eventos com temáticas sobre minorias na Colômbia e Argentina, Eduardo também participa de reuniões da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência. Foi coordenador da mesa “Brasil Negro” e apresentou a conferência “De uma ciência para e não tanto sobre o negro”. No ano seguinte, o trabalho intitulado “Brasil, Abolição 90 anos, noves fora?”. Eduardo também organizou a “Semana Zumbi” e realizou a exposição “Trabalho Escravo e Trabalho Livre”, no Teatro Municipal de São Paulo.

Em 1979, Eduardo viaja para Cairo, Luxor e Assuan, no Egito, para realizar pesquisas sobre a “negritude no mundo mediterrâneo”. Eduardo interrompe a viagem e retorna muito doente para São Paulo. Internado na cidade de Itapira, no interior de São Paulo. Assim, Eduardo de EOO_TVCulturaOliveira e Oliveira falece em 20 de dezembro de 1980, aos 57 anos. 

Nas palavras de Antonio Candido: 

Convivendo com Eduardo de Oliveira e Oliveira, sentia-se a fundo a dignidade do homem inconformado; aquele que diz – não – e obriga os outros a sentirem o peso inquietante desse não saneador. Sentia-se também a qualidade rara dos que têm na vida um objetivo verdadeiro para acondicionar os atos e dar sentido ao pensamento. O requinte, a impecável cortesia emprestavam um gume singular à força de sua coragem e à integridade de todo o seu ser. (CANDIDO, 1984).

ACESSO À COLEÇÃO

CURIOSIDADES: EDUARDO DE OLIVEIRA E OLIVEIRA

O sobrenome

Em seus documentos pessoais seu nome aparece apenas como “Eduardo de Oliveira”, o “Oliveira e Oliveira” passa a ser usado para evitar a confusão com o nome de outra importante figura do Movimento Negro Unificado (MNU);

Biografia 

Rafael Petry Trapp produziu uma biografia intelectual de Eduardo de Oliveira e Oliveira em sua tese de doutorado apresentada no Programa de Pós-Graduação em História da Universidade Federal Fluminense (UFF), com o título, O elefante negro: Eduardo de Oliveira e Oliveira, raça e pensamento social no Brasil (São Paulo, Década de 1970);

Inventário "físico"

A coleção também conta com um inventário analógico intitulado, Inventário analítico da coleção “Eduardo de Oliveira e Oliveira” produzido por Vera Aparecida Lui Guimarães e Maria Cristina P. Innocetini Hayashi (1984). O material pode ser consultado presencialmente e é um bom auxiliar de pesquisa da coleção.

GUIMARÃES, Vera Aparecida Lui; HAYASHI, Maria Cristina P. Innocentini. Inventário analítico da coleção 'Eduardo de Oliveira e Oliveira'. São Carlos: Arquivo de História Contemporânea. UFSCar, 1984.

Autoria

Textos: Mariana da Silva Correa dos Santos José Carlos Alves Jr.

Imagens: Rodrigo Zanin (@rodrigozanc) e Arquivos UEIM

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