ANOS 1980 - Pasquim

NASCIDO NA CENSURA

          Durante o auge da ditadura militar no Brasil, um grupo destemido de jornalistas, liderado por Tarso de Castro e com o apoio de Sérgio Cabral e o cartunista Jaguar, fundaram o “Pasquim” em 1969. Em meio à repressão do Ato Inconstitucional n°5, o jornal se tornou uma voz ousada de oposição ao regime antidemocrático, utilizando o humor e a sátira para abordar temas sociais, econômicos e políticos. O “Pasquim” não se limitou a criticar o regime militar: o jornal desafiou a sociedade ao abordar tabus como liberdade sexual, igualdade de gênero e direitos LGBTQIAP+.

          Porém, a postura combativa do jornal chamou a atenção do regime militar e sofreu censura. Apesar das perseguições, os envolvidos resistiram, usando pseudônimos e metáforas para transmitir as suas mensagens. O “Pasquim” enfrentou perseguições, ameaças e prisões, mas persistiu até o fim da ditadura em 1985. Tornou-se símbolo de resistência e liberdade de expressão, fortalecendo o movimento pela redemocratização do Brasil.

MULHER: Um olhar do presente sobre a realidade do passado

 

          É importante considerar que o contexto histórico de produção do "Pasquim" era profundamente marcado pela desigualdade de gênero e pela repressão aos movimentos feministas. As conquistas em prol dos direitos das mulheres ainda estavam em estágios iniciais, e a representação feminina na mídia frequentemente reforçava estereótipos e normas sociais conservadoras.

          Essa reflexão crítica sobre a retratação da figura feminina no "Pasquim" nos convida a pensar sobre a importância da representatividade e da inclusão na mídia. Apesar de seu caráter vanguardista, o “Pasquim” retratava as mulheres de maneira que hoje consideramos problemáticas, utilizando estereótipos como aqueles de donas de casa submissas, sedutoras, fúteis ou inferiores em relação aos homens. 

          Essas características são imediatamente observáveis em qualquer edição do jornal, algumas contendo mais de uma ocorrência. Em uma edição específica – de 8 a 14 de fevereiro de 1980, cujo tema central era a diversidade sexual – o conteúdo era quase exclusivamente focado em lésbicas - essas representadas com poses sensuais ou então simplesmente nuas. O Pasquim utilizava manchetes como ‘‘Lésbicas onde, como(em) e porque’’ e ‘’Há dois tipos de lésbicas: homem e mulher’’ para dissertar sobre as sexualidades.

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          Essas representações, chocantes aos olhos atuais, eram reflexo das concepções machistas da época, diminuindo a importância das mulheres na sociedade. Embora abordasse temas como liberdade sexual e igualdade de gênero, o jornal contraditoriamente perpetuava desigualdades com o seu humor - não só de gênero, mas também de raça; e não só nas publicações, mas também na equipe: enquanto figuras masculinas ocupavam posições centrais, as mulheres tinham menos visibilidade e reconhecimento, se encarregando de posições limitadas na produção do jornal. 

          Ainda assim, não podemos reduzir a interpretações desses exemplares a uma perspectiva anacrônica. Sim, o humor esdrúxulo e sexista frequentemente era foco central das táticas utilizadas pelo Pasquim para criticar e promover a resistência ao regime militar. Mas, foi driblando a censura por meios, atualmente, bastante incorretos que o Pasquim ajudou a impulsionar o movimento de redemocratização no Brasil.

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